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O Velho Sábio

O Velho Sábio

Em algumas cidades no Brasil, comemora-se em 15 de outubro o Dia do Professor, noutras, o Dia do Mestre. Ser professor é uma carreira tão respeitada em outros países que no Japão, por exemplo, a única pessoa a quem o imperador faz reverência é o seu professor. Na Índia, são tratados como uma classe superior, pois detêm o conhecimento.

Mestre-por-Flávio-Moreira

O Velho sábio – capítulo do livro Eu me lembro – DeRose

Certa manhã, fui tirar leite de nossa búfala, que pastava solta perto das margens do rio. Caminhando pelo campo com os pés descalços na relva molhada pelo orvalho da noite, tão absorvido estava que passei pelo animal e segui em frente. Pouco adiante, encontrei um velho sábio, sentado olhando para as águas que seguiam montanha abaixo. Cumprimentei-o e perguntei o que estava observando. O ancião me disse que estava observando seus pensamentos. Sentei ao seu lado e, como uma criança, sem nada questionar comecei a fazer o mesmo. Passaram-se várias horas e lá estávamos os dois, lado a lado, sem dizer palavra. Porém, entendendo-nos perfeitamente bem.
Até que, em dado momento, o ancião virou-se para mim e começou a falar.
– O que você observou?
– Meus pensamentos.
– Gostou?
– Sim.
– De que natureza eram?
– De todos os tipos. Pensei nas águas, obedientes, que seguem fazendo as ondas no mesmo lugar, apesar de serem sempre outras. Depois, pensei na nossa vida, que também é assim. Somos sempre outras e outras pessoas a nascer, crescer, trabalhar, casar… mas seguimos fazendo as mesmas coisas sem que ninguém nos obrigue a isso. Daí pensei nas nossas ovelhas, cabras e vacas, que também seguem fazendo as mesmas coisas desde que nascem, até que morrem. E seus descendentes continuam fazendo as mesmas coisas. Qual o sentido de tudo isso?
– Você se fez essa pergunta?
– Fiz.
– E qual foi a resposta?
– Não obtive resposta, pois meu pensamento seguiu os pássaros e mudou continuamente. Mas gostei da experiência.
– Então volte amanhã e vamos contemplar o rio juntos outra vez.
Assim o fiz. Durante muito tempo retornei e sentei-me ao lado do ancião. Era uma relação de amor. Desde a primeira vez que o vi, senti um carinho arrebatador por aquele mestre. Olhava-o com admiração gratuita, pois ainda não o conhecia suficientemente bem. Não sabia o universo de sapiência que ele tinha para me transmitir. Era simplesmente amor, desinteressado, a primeira vista.
Quase sempre ficávamos calados por muito tempo. Geralmente, no final, ele fazia algumas perguntas. Depois de uns quantos meses, notei que suas perguntas era o que me permitia tomar consciência de quão profundo havia ido na viagem interior.

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